terça-feira, 27 de julho de 2010

- Capítulo 5 -

   Passados presentes


Parte : Finalmente a sós

"Querido Diário, hoje é 08 de agosto de 2009...

Esses dias realmente foram uma loucura. Meus pensamentos estão a mil e meus sentimentos a flor da pele.
Minha carreira de modelo, rever o Derik, brigar com o John... não sei se consigo aguentar tanta coisa.
O último é o que mais me preocupa, sabe... o John.
Por que ele agiu daquela forma? Se ele gosta de mim, por que não disse claramente, com todas as palavras? Eu iria amar. E por que ele não diz agora? Ele tem meu telefone, ele sabe onde eu moro, é tão difícil pedir desculpas? Por que ele não me deixou explicar? Por que tudo aconteceu assim?
Aquele friozinho que eu sentia na barriga toda vez que pensava nele se transformou num vazio terrível e o pior é que não consigo deixar de pensar em todas essas coisas, eu sei  que preciso focar na minha carreira, mas meus sentimentos não deixam.
Tudo que eu sempre sonhei, o objetivo da minha vida, está finalmente dando certo, está finalmente acontecendo. A sessão de fotos, o desfile, eu devia estar muito feliz com tudo isso mas não estou. Na verdade, não sei nem o que fazer. Ainda bem que viajo amanhã para a Europa e tudo isso vai ficar pra trás. Não pensar em tudo isso por um tempo talvez seja bom. E eu quero fazer minha carreira dar certo. Mas como tão triste assim? Talvez com o John na minha vida eu não consiga. Ai ai... Quantas dúvidas. Essa viagem não poderia estar acontecendo em hora melhor. Pelo menos é isso que eu espero."


"Querida, as meninas estão aqui. Querem falar com você." - Minha mãe disse pelo cantinho da porta do meu quarto.

"Pede pra elas virem até aqui, por favor." - Não estava afim de sair do meu quarto. Minha mãe nem precisou falar com as meninas, quando se virou já estavam esperando na porta.

"Hey Jessy, o que aconteceu com você? Não tivemos notícias sua desde ontem. Tava comemorando com o John é?" - A Nat me perguntou com um sorrisinho malicioso no rosto.

"Ai meninas, nem falem do John. Deu tudo errado!" - Falei afundando meu rosto no travesseiro. Comecei a sentir meus olhos se enxerem de lágrimas só de lembrar.

"Como assim? O que aconteceu?" - Camilly perguntou enquanto as meninas sentavam em volta de mim na cama.

"O John chegou aqui e me viu abraçada com o Derik. O clima ficou super tenso, a gente brigou e ele foi embora. Que droga!" - Falei tudo de uma vez só enquanto as lágrimas desciam pelo meu rosto.

"Pera aí, o Derik?! Ele não tava na Carolina do Norte? E por que você brigou com o John?! Não to entendendo nada Jessy, explica melhor isso tudo." - A Jenny perguntou com uma sombrancelha arqueada, ela sempre fazia essa expressão quando não entendia alguma coisa.

"Assim... minha mãe me chamou de manhã dizendo que eu tinha visitas, pensei que era o John mas dei de cara com o Derik. Conversamos e ele me disse que voltou pra cá porque resolveu morar sozinho e não tinha lugar melhor do que aqui pra isso. Ficamos conversando e na hora dele ir embora o acompanhei até a porta, aí quando nos abraçamos ele me levantou como sempre fazia e quando me colocou no chão ví que o John estava atrás dele, vendo tudo." - Falei enquanto me recostava na cabeceira da cama tentando relaxar.

"E aí? O que o John fez?" - Camilly perguntou aflita, como se aquele fosse o final de alguma novela mexicana.

"Ele deu um ataque. Ficou super nervoso, falou um monte de coisas, discutimos e ele foi embora. Nem sei porque ele ficou daquele jeito. Poxa, somos só amigos, qual o problema dele ter me visto abraçada com o Derik?"

"Amiga tá na cara que rola alguma coisa entre vocês e vocês sabem disso." - Jenny falou como se aquela fosse a coisa mais óbvia do mundo. Talvez fosse mas pra mim não era a hora de adimitir ainda.

"Por que ele nunca me disse então? Precisava ter agido daquela forma?" - Perguntei já imaginando qual seria a resposta.

"E por que VOCÊ nunca disse? Com certeza teria evitado muita discussão." - Jenny respondeu me deixando sem resposta. No fundo eu sabia que ela tinha razão, eu poderia ter dito primeiro mas não disse e agora tava naquela confusão toda.

"Ainda dá tempo de falar com ele Jessy, não seja orgulhosa." - Camilly disse pegando na minha mão.

"Eu não." - Larguei a mão dela - Ele tem que me pedir desculpas. Foi ele quem começou toda a discussão, eu não fiz nada!"

"Jessy, pensa bem, presta atenção..." - Nat começou mas eu a interrompi.

"Meninas, vamos parar de falar disso ok? Amanhã viajo pra Europa e tudo isso vai ficar pra trás, pelo menos por um tempo." - Respirei fundo tentando acreditar no que eu acabara de falar.

"Tudo bem. Vamos tomar um sorvete?" - Camilly sugeriu e fomos todas até nossa sorveteria preferida.

Pegamos nossos sorvetes, o meu e o da Jenny de chocolate, o da Camilly de morango e o da Nat de pistache. Sentamos na mesa de sempre, perto da janela, lugar estratégico, lá sempre passam muitos garotos lindos e sentadas na janela vemos todos de camarote.

"Jessy, fala com o John. Eu sei que vocês se gostam, não vale a pena ficarem assim por uma besteira." - Insistiu Nat. Sei que ela só estava preocupada comigo mas a insistencia delas já estava me irritando.

"Besteira? Você não estava lá, não viu a cara de nojo que ele fez pra mim. Ele exagerou muito, podia muito bem ter sido simpático com o Derik, somos apenas amigos... todos nós." - Falei tentando não aumentar o tom da minha voz.

"E o Derik? Como foi revê-lo? Quando ele foi embora vocês ainda se gostavam muito né?" - A Jenny perguntou curiosa.

"Ah... sei lá... quer dizer, foi ótimo. Tava morrendo de saudades dele. Ele continua o mesmo de sempre. rs" - Sorri sem querer, lembrando de como era divertido estar com o Derik.

Todas pararam por um segundo.

"Essa cara... Jessy... eu te conheço. Você ainda gosta dele não gosta?" -  Camilly perguntou me analisando minuciosamente.

"Tirou as palavras da minha boca, Cammy." - Disse Jenny limpando os lábios com o dedo e com uma cara, digamos, desafiadora pra mim.

"O quê? Meninas, vocês tão loucas? Acabram de dizer que eu gosto do John, agora dizem que gosto do Derik, resolvam-se né." - Meu celular tocou assim que terminei de falar. Senti meu coração pular na esperança de ser o John pedindo desculpas. Me decepcionei quando não reconheci o número. Atendi.

"Jessy? Oi, é o Derik. Tudo bem?" - Ele sempre teve uma voz linda. Ai ai...

"Oi Derik, tudo bem sim, aconteceu alguma coisa? Quer dizer, nos falamos a pouco tempo. rs" - As meninas abafaram o riso quando falei o nome dele.

"Ah, você sabe né... não consigo ficar muito tempo sem falar com você."

"Sei... você não muda né? Anda, diz o que foi."

"É que quando eu vim embora ficou uma clima meio tenso lá entre você e aquele cara, queria saber se aconteceu alguma coisa, sei lá, não fui muito com a cara dele."

"Aconteceu sim. A gente discutiu." - Falei desanimada por ter que tocar novamente nesse assunto.

"Que idiota! Sabia que tinha alguma coisa errada com aquele cara. Aonde você tá?" - O Derik falou com a voz mais elevada. Ele estava ficando irritado. Fiquei feliz por ele não saber onde o John morava, o Derik sempre foi muito impulssivo.

"Numa sorveteria com as meninas. Só relaxando um pouco. Mas vamos deixar esse assunto pra lá, ok? - Desconversei. Não tinha gostado de ele ter chamado o John de idiota, mas como eu também queria chamar não briguei com ele - Elas ficaram surpresas quando eu disse que você voltou."

"Então quer dizer que anda conversando sobre mim? Isso é um bom sinal. Não saiam daí ok? Vou encontrar com vocês. Beijooo, to chegando já." - Ele sempre teve o costume de distorcer as coisas, deve estar imaginando que falei de sua beleza angelical e passei o dia inteiro suspirando por ele.

Ele realmente chegou bem rápido e quando passou sorrindo em frente a janela as meninas já começaram a comentar. "Eu disse que era ótimo sentar na janela."

"Como ele tá lindo!" "Olha o cabelo dele!" "Com certeza ele malhou muito!" - Não faltavam elogios das meninas e olhares das outras garotas da sorveteria.

"Calem a boca meninas, ele não é surdo né!" - Sussurrei enquanto ele se aproximava, mas não adiantou muito, ele ouviu do mesmo jeito.

"Se preocupa não Jessy, já estou acostumado com os elogios. E aí meninas, quanto tempo." - Ele falou enquanto abraçava e beijava cada uma. Depois se sentou do meu lado.

Vi as meninas cutucando umas as outras por baixo da mesa e depois Camilly falou:

"Bom Derik, foi ótimo rever você e adorariamos ficar aqui conversando, mas precisamos ir embora. Então, até qualquer hora." - Todas se levantaram e sairam antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. Óbivio que elas fizeram isso só pra eu e o Derik ficarmos sozinhos. Pode parecer estranho. Mas no fundo, no fundo, era exatamente o que eu queria.

"É... finalmente a sós. Acho que o destino anda torcendo por nós." - Derik falou enquanto colocava o braço a minha volta.

"Destino? - Sorri - Só se o destino se chamar Jenny Sindelar." - Ele também sorriu dando de ombros e me disse:

"Você tem um sorriso lindo sabia?" - Na verdade o John já tinha me dito isso mas preferi ficar quieta. O Derik era uma das poucas pessoas que conseguia me deixar sem jeito. Percebendo que eu não iria responder ele continuou.

"E então, vai me contar qual é a daquele cara?"

"'Aquele cara' se chama John e ele é o irmão mais velho da Ashy. Ele morava na Califórnia, mas depois de tudo que aconteceu ele veio pra cá." - Tomei uma colherada do meu sorvete e torci pra essas informações serem suficientes. Realmente não queria falar sobre o John e muito menos falar sobre John com o Derik.

"E por acaso vocês são namorados?" - Pois é, não foram suficientes. Sabia que ele chegaria a essa pergunta mais cedo ou mais tarde.

"Namorados?! Não, claro que não! Apenas amigos, quer dizer, pelo menos era isso que eramos antes da discussão."

"Ele fez alguma coisa com você? Ele te ofendeu? Onde esse cara mora?" - Derik sempre se exaltava muito facilmente. Ainda bem que ele se acalmava com a mesma facilidade.

"Calma Derik, ele não fez nada. Vamos mudar de assunto ok? Não quero mais falar sobre o John." - Já tinha perdido a conta de quantas vezes tinha dito isso. Por mais que eu não quisesse falar sobre o John, alguém sempre tocava no assunto.

"Tudo bem, prometo não falar mais nisso!" - Disse ele levantando a mão direita como uma testemunha que acabara de fazer um juramento em pleno processo tribunal. Continuou:

"Então Jessy, faz pouco tempo que tudo aconteceu né? O acidente, a Ashy... como você tá com tudo isso?" - Ele perguntou com a voz mais doce do mundo, sem mudar, é claro, seu estilo misterioso e aquele olhar de sempre de quem quer conquistar. Mas eu senti que ele estava mais preocupado que curioso.

"Sinceramente, não faço ideia. É coisa demais pra eu suportar sabe? Tento não pensar nisso, levar a vida adiante. E tá tudo tão recente. As vezes tenho medo de parecer fria. Mas não sou. Eu acho que só estou tentando me proteger de mais sofrimento. A Ashy era a pessoa mais importante da minha vida. Eu sinto a morte dela todos os dias e sei que vou sentir pra sempre." - Comecei a chorar sem conseguir conter os soluços.

"Ei, ei... não chora minha linda. Claro que você não é fria. Olha, eu tenho certeza que esta sendo tudo muito difícil pra você. Ninguém esta preparado pra lidar com uma situação assim, por que você estaria? A vida é injusta demais Jessy, não podemos fazer pouco de nós mesmos e nem devemos esperar que alguém nos exalte, pois ninguém o fará. Olha, não precisa se preocupar com o que os outros vão pensar, mesmo que o que você faça não faça sentido. - Ele levantou minha cabeça que estava recostada em seu ombro e disse olhando nos meus olhos - Você perdeu sua amiga na morte, Jessy. Isso é um fato. Nada do que você faça precisa fazer sentido pros outros agora. Sei que você vai superar isso tudo, fica tranquila. Eu só queria ter estado com você quando aconteceu... do seu lado."

Sorri sem graça mas com lágrimas nos olhos.

"Desculpa, Derik." - Disse eu sem graça já não conseguindo desfarçar o choro.

"Não precisa me pedir desculpas lindinha. Pode chorar, pode desabafar, o Derik tá aqui agora." - Disse ele colocando minha cabeça novamente sobre seus ombros.

Me recolhi nos seus braços e deixei sair algumas coisas que estavam me machucando por dentro.

"Sabe, Derik. Quando eu lembro de tudo. Quando eu lembro de todo o acontecido. Não consigo pensar no acidente, nos meus machucados, no susto... Não consigo. Só penso na Ashy. Fico tentando lembrar da última vez que olhei pra ela. Tento pensar o que estariamos fazendo agora se ela tivesse vivido. - Comecei a chorar mais e cada vez falava mais do fundo do coração  - Sabe, acho que a última vez que olhei pra ela, nos olhos dela, foi em casa. Só em casa. Depois no carro, não olhei pra minha amiga, Derik. - Tudo isso me machucava muito e eu não conseguia parar de chorar - Como a gente só da valor a pequenas coisas depois que as perde?! Eu queria ter olhado mais pra ela, Derik. Ai meu Deus, ela só tinha 17 anos. Ela tinha uma vida inteira. Isso não é justo. - Consegui conter um pouco as lágrimas mas ainda estava chorosa - É impressionante como mesmo depois de crescer com ela eu vejo que ainda teriamos muito pra conversar. Queria poder vê-la de novo Derik. Dar um abraço nela. - Nesse momento acho que Derik deixou cair algumas lágrimas mas não tenho certeza. - Queria olhar pra ela de novo. como eu queria. Saber dos sentimentos dela. Falar que ela estava escolhendo o cara errado de novo. Falar que não era certo ela humilhar as calouras ou obrigá-las a fazer cosias pra gente. Ai Derik... da uma saudade. Uma saudade que machuca muito meu coração. Me lembro de quando cozinhavamos juntas. Era tão engraçado, tão divertido. As veses eu ia pra casa dela só para fazer nossos 'Croissants' e passavamos a tarde toda comendo, mesmo não ficando tão bom. Tenho saudade de eu falando pra ela que não precisava de tanto trigo pra folhar a massa e ela nem me dava bola. Ela era tão independente de tudo, tão sabida. Mas eu dependia muito dela. Eu precisava muito dela. Eramos as melhores amigas de todo o mundo. Ela me completava mais do que qualquer outra coisa. - Derik não parava de me fazer carinho e me abraçava muito forte - Me lembro quando brigavamos, o quanto eu ficava mal até fazermos as pazes de novo. As vezes penso que se a Ashy tivesse morrido em um momento que estivessemos mal uma com a outra eu nunca iria me perdoar. Se eu pudesse tê-la de novo eu nunca mais iria brigar com ela. Nunca mais. Sinto falta dela Derik. Sinto muita."

Eu chorava muito e cada vez sentia mais forte o abraço do Derik. Embora muitas pessoas falassem naquele local, pairou um enorme silêncio entre eu e Derik, um silêncio tão forte que poderiamos até saber o que o outro estava pensando. E percebendo meu momento de fragilidade, Derik disse:
"Quer que eu te leve pra casa?" - Eu realmente estava desconfortavel sentada ali, chorando como uma louca desesperada e todo mundo olhando pra mim.

"Quero sim." - Respondi ainda fragilizada.

Saimos da sorveteria e caminhamos juntos, abraçados, por toda West Village, até chegar em casa. Derik estava muito carinhoso comigo. Me sentia segura perto dele.

Chegando em casa, eu subi pro quarto e Derik foi pedir um copo com água pra minha mãe. Quando cheguei lá em cima deitei na minha cama com vontade de explodir. Acho que nada poderia curar o que eu sentia, só ter a Ashy de novo.

Depois me lembrei de uma caixa de fotos nossas, da nossa infância. Estava na porta de cima do armário. Que alegria me bateu ao lembrar das fotos. Eu tinha que vê-las. Subi na cama, coloquei um pé na gaveta de baixo do armário e me estiquei toda pra tentar alcançar a porta lá em cima. Era uma cena muito engraçada, ainda bem que não tinha ninguám perto com uma câmera pra registrar.
Eu estava quase lá, quase lá. Ja tinha conseguido abrir a porta, agora eu só precisava pegar a caixa. Estiquei todos os meus dedinhos, todos eles, todos os musculos do meu corpo, até conseguir tocar na caixa. Eu estava mais parecendo uma trapezista, toda esticada lá em cima. A última coisa que eu queria era que o Derik chegasse e me visse daquele jeito. E eu estava quase lá, quase lá...

"Jessy?" - Impressionte como certas cosias acontecem justamente do jeito que agente não queria que acontecesse. Pois é, junto com a minha moral eu também estava caindo com o susto que o Derik me deu.
Agora, diga-se de passagem, a respeito da minha moral eu não sei, mas pra minha sorte, Derik estava lá em baixo pra não me daixar cair, ou ao menos tentar né.

Quando caí consegui puxar a caixa com as fotos, mas caíram todas em cima de mim e do Derik. Ah, sim, esqueci desse detalhe. Eu caí no colo dele. Pois é, fiquei sem palavras olhando pra ele. Ai foi ele quem falou:

"Ei, você tá bem? Se machucou?" - Eu estava realmente sem palavras. Fiquei igual uma idiota lá parada no colo dele com ele sentado na cama com um monte de fotos espalhadas pelo quarto.

"Ah, sim. To bem, to bem. Obrigado." - Me recompus.

"Ainda te faço perder o equilibrio... bom saber." - Impressionante como o jeito convencido dele sempre me fazia rir.

"Bom... odeio estragar suas conclusoes mas acho que o fato de eu estar me equilibrando na ponta dos dedos em cima de uma gaveta teve mais a ver com a minha queda do que o seu sorriso charmoso Derik."

"Não precisa inventar desculpas. Sei que mecho com você." - Ele deu aquele sorrisinho irresistivel. Eu tinha uma resposta na ponta da língua mas as veses o melhor a fazer é deixar eles pensarem que estão com tudo.

Derik me ajudou a pegar as fotos que estavam espalhadas pelo chão, depois sentamos juntos na cama. Comecei a olhá-las, era ótima a sensaçao nostálgica que aquelas fotos me davam, a saudade, a Ashy, momentos com o Derik. Eu estava muito feliz. Mas as lembranças alegres juntas com o presente triste me faziam sentir confusa também. Mas, enfim, naquele momento eu estava bem.

"Hey, olha essa foto. Me lembro desse dia. Foi muito divertido!" - Derik achou uma foto nossa numa roda gigante muito iluminada.

"Ah, eu me lembro! Foi no dia que eu te apresentei as meninas. A Ashy odiou você no início."

"Conquistei ela fácil. Ninguém resiste ao meu jeitinho encantador." - Derik era o único menino que mesmo soberbo fazia parecer a coisa mais charmosa do mundo ser tão narcisista. Algo quase inexplicável. Não vou mentir, tudo que ele falava era verdade. Ninguém resistia mesmo a ele. Aquele cabelo loiro e sorriso perfeito eram hipnotisantes.

"E esse dia aqui, você se lembra?" - Mostrei a ele uma outra foto nossa juntos.

"Claro que lembro! Foi num feriado de 4 de julho. Você estava linda nesse dia. Bons tempos heim."

"Como assim, bons tempos? Quis dizer que agora estou feia, é?" - Perguntei presumindo sua resposta.

"Não minha linda, você nunca vai ser feia. Você é demais, você sabe disso." - O sorriso dele era devastador, impressionante.

"Ai ai Derik - Sorri sem graça - Mas eram bons tempos mesmo. Você me divertia bastante." - Relembrei sorrindo ao olhar pra foto de nós dois abraçados, em meio a explosão de fogos logo ao fundo.

Vocês já repararam o poder que as nossas fotos antigas tem sobre nós? Se nos concentrarmos em algumas é como se voltassemos até aquele momento. Conseguimos nos lembrar das vozes, dos sorrisos, dos cheiros, dos sabores, de cada segundo que passamos até aquela imagem ser congelada para sempre. Algumas pessoas dizem que quando tiramos uma fotografia, naquele milésimo de segundo, é como se o mundo inteiro congelasse e naquele instante de tempo podessemos ter uma ideia do que é eternidade.  Tenho que adimitir que olhando aquelas fotos era como se eu tivesse recuperado uma parte minha, uma parte que estava fazendo muita falta e que que eu havia esquecido que permanecia eternamente em mim.

"Uauu, Quem rasgou essa foto devia estar com muita raiva, heim. Quem era a outra pessoa na foto?" - Derik me entregou metade de uma fotografia um pouco amassada, e pela metade, onde apareço sorrindo e com o braço esticado como se estivesse abraçando alguém.

"Meu Deus! Eu ja tinha até me esquecido dessa foto! Era a Ashy! Claro que era a Ashy!" - Falei segurando a foto e a analisando. Fiquei feliz e surpresa por ter a reencontrado.

"Quem rasgou a foto?" - Derik perguntou interessado.

"A Ashy. Essa fotografia era muito importante pra nós duas, tinha um valor especial sabe?" - Respondi ainda segurando a foto, passando os dedos pelo lado rasgado tentando me lembrar do sorriso da Ashy na outra metade.

"Se era especial por quê ela rasgou?" - Derik perguntou ainda mais interessado. Era tão bonito quanto curioso.

"Em uma de nossa brigas, que eram poucas, a Ashy ficou muito irritada comigo e rasgou a foto levando a outra metade com ela." - Havia uma história, um tanto, sigilosa por trás dessa foto, então respondi torcendo para o Derik ficar satisfeito e mudar de assunto.

"O que fazia essa foto ser tão especial pra vocês? Sabe... vocês tem tantas fotos juntas, por que essa era diferente?" - Ele não ficou... De novo. Já devia esperar, ele estava realmente interessado na fotografia, olhava intrigado pra mim enquanto falava.

"Ah, não é nada. Esquece. Olha, tá ficando tarde e eu to um pouco cansada, vou tomar um banho e arrumar minhas coisas para a viagem." - Inventei uma desculpa, confiava no Derik mas eu e a Ashy juramos que nunca contariamos para ninguém sobre essa foto.

"Hum... tudo bem. Eu falo com você amanhã, antes de ir. Tenho uma surpresa." - Ele não ficou nem um pouco satisfeito com a mudança repentina de assunto e eu sabia que ele não esqueceria aquela foto tão fácil.

Derik se ofereceu pra arrumar o quarto junto comigo mas eu realmente queria ficar sozinha com aquela foto e principalmente não queria o Derik questionando sobre ela.
Levei ele até a porta e num é que aquele safadinho tentou me dar um beijo. Esquivei um pouco com o corpo pra tras:
"Até amanha Derik." - Não sei se eu estava fazendo doce ou se realmente não queria que acontecesse, só sei que aconteceu assim.

"Tudo bem, Jessy, eu sou paciente." - Que sorriso era aquele, meu Deus - "E, apropósito, se quiser conversar sobre a foto..."

"Valeu, Derik, mas pode deixar que eu to bem." - Ele era curioso e insistente.

"Tudo bem então. Até." - Disse ele com aquele sorriso maravilhoso e perfeito de novo. É sério, era viciante.