sábado, 2 de janeiro de 2010

Parte 2- "Daqui a pouco passa..."



- Jessy?! - surgia uma voz estranhamente conhecida pra mim, uma voz grossa, de homem feito, chamando meu nome num tom levemente interrogativo mas com firmeza suficiente pra eu saber que me conhecia. Uau, eu realmente o conhecia, não como eu o estava vendo naquela hora, conhecia antes, antes de ele virar aquilo tudo! Quer dizer, quando ele não era homem. Não, calma ai, ele sempre foi homem, não foi isso que eu quis dizer...

Aiiii... PARA TUDO!!!

Uffa...!!!

Desculpem, fiquei nervosa...

   Bem, quem me chamava era John Stwart, irmão mais velho de Ashy. Ele morava com o pai dele na Califórnia. Ele vinha as veses pra Nova York passar um tempo com a mãe e sempre ficava comigo, Ashy e as meninas. A última vez que eu o tinha visto devia fazer uns 8 anos. Ele estava muito lindo, não acreditva que aquele era o John Stwart que eu passei minha vida toda discutindo! ai ai...

   ...Quer dizer, como eu pude achar ele lindo?!! Acredita que ele colou 17 veses chiclete no meu cabelo? Teve uma vez que eu tive q cortar muito meu cabelo. Fiquei igualsinha uma cantora de heavy metal, com uma metade do cabelo grande e outra pequena. Me chamaram de Jessy Pauleira por dois anos na escola. Tudo por causa daquele idiota! Mas tudo bem... por mais raiva que eu pudesse sentir, aquele realmente não era o momento nem a hora propícia pra resolver assuntos pendentes. Uma vez ele me disse que "se mulheres fossem dinheiro todas as notas seriam falsas". Não concordo, lógico! Mas disse pra ele sorrindo:

- Johnny?! - Replicando com o mesmo tom que ele havia me dirigido.

Daí ele disse:

- Sabia que eu ia te encontrar aqui em cima. Nossa como você esta linda!

(Ai meu Deus, ele aprendeu a falar!) - pensava eu hiper-nervosa.

- Obrigado! você também té muito diferente... cresceu! - tentei disfarçar. E ele não deixava o assunto acabar:

- eu tava no carro vindo pra cá e fiquei lembrando da gente, como a gente brincava, corria por esse parque todo. E eu que nem um bobão retardado!

- Ah que retardado nada, você era o mais esperto!

- Impossível. Como eu poderia ser tão esperto e insistir em implicar com uma menina tão linda igual você sempre foi?

   Quase infartei! Fiquei muito nervosa, sério! Ele tinha se tornado um galã charmoso, lindo e perfeito.
   Ai meu Deus! - eu não acreditava que tivesse com frio na barriga por causa daquele garoto. Pensei em ficar calma, respirar, assimilar tudo que estava acontecendo - ( ok, tudo isso que estou sentindo é irrelevante. É momentâneo. Ok, ok!! Ashy!!! Ele veio aqui por ela, e eu também.) - Ashy tinha morrido, e eu ali sentindo um monte de coisas, eu tinha que mudar o rumo daquela conversa por respeito ao falecimento da Ashy e pra que eu não desmaiasse também.

- E então John, como você tá com isso tudo? - só me dei conta de como essa pergunta era idiota depois de falar. Lógico que tava sendo terrível toda essa situação!

- Ah... você sabe né... no começo é difícil mas daqui a pouco passa.

   O que?! Como assim "daqui a pouco passa"?! Será que estamos falando da mesma situação? Como ele pode ser tão frio? A irmã dele acabou de morrer em um drástico acidente de carro e ele só diz "daqui a pouco passa"! Parece que está falando de uma gripe que pegou num fim de semana.

- Não acho que seja assim que as coisas acontecem. - eu disse um pouco mais arrogante do que esperava.

- Parece que você ainda é o mesmo John de 8 anos atrás. Um pouco mais charmoso mas o mesmo garoto prepotente de sempre.

   Falei e saí da casa da árvore deixando o mapa que tinha encontrado cair no chão.

   Fui direto pra casa, entrei no meu quarto e tranquei a porta, peguei meu diário e comecei a escrever loucamente. Eu precisava colocar tudo pra fora! Os últimos dias estavam me deixando maluca! Normalmente eu conversaria com a Ashy mas agora é impossível... ou será que não?
   Foi aí que tive uma idéia: ia escrever uma carta pra Ashy no meu diário toda vez que precisasse desabafar, sabia que ela não iria me responder mas seria bom sentir como se ainda pudesse conversar com ela.

   "Querida Ashy, to morrendo de saudades de você. Viver aqui nesse mundo sozinha é tão difícil! Fico me lembrando de todos os momentos divertidos que tivemos juntas... lembra daquele dia que subimos na árvore que fica em frente a janela do quarto do Joe só pra ver ele e os amigos ensaiando as músicas da banda dele e eles viram e chamaram a polícia achando que eram dois sequestradores? nunca corri tanto em toda minha vida! tive até taquicardia! rsrsrs
Nós eramos loucas! rsrs
Sinto muito sua falta amiga... de verdade. Hoje encontrei com seu irmão e ele tá o maior gatinho! Nossa... melhor nem lembrar! Ai ai... rsrs
De qualquer forma ele foi muito frio. Sei que ele nunca foi nenhum doce de garoto mas fiquei perplexa depois de ouvir o que ele disse.
É isso amiga... já to me sentindo bem melhor depois de desabafar nessa carta. Te escrevo mais outra hora. Te amo muito! Nunca vou me esquecer de você, eu prometo!"

   Pode parecer ridículo escrever uma carta pra uma garota morta, mas ela nao é só uma garota, é minha melhor amiga e sempre vai ser. Escrever essas cartas pra ela foi o que serviu de grande ajuda pra eu conseguir suportar aquela perda.

   Nova York passou a ser meu recanto, além de ser minha casa. Passou a ser minha referência. A vontade que eu tinha era de aproveitar a vida ao máximo que eu pudesse, viver cada dia como se fosse um, assim como os marxistas da antiguidade. Nunca gostei muito de história, adimito, mas adotaria o lema deles com muito prazer. CARPE DIEN!!! Me lembro até hoje da srta. Bullman gritando na sala do jeito que os marxistas faziam. Hoje eu ja não acharia tão ridículo. Talvez até gritasse junto com ela. Desculpem não quero fugir do foco, mas acho que isso é natural. Esse momento da minha vida decidiu o que eu iria me tornar, decidiu que tipo de caráter eu teria e que tipo de personalidade eu passaria a ter. Entre me afogar no mundo chulo de Nova York e viver o carpe dien como máscara pra esconder a escuridão que estava meu coração eu escolhi ser melhor.