terça-feira, 27 de abril de 2010

Parte 2 - "Mar de ressaca"


   Eu sabia que aquilo não era certo, que aquela não era eu, que com certeza a Ashy não aprovaria, mas não havia mais volta, eu me entreguei, lancei-me aos leões quando aceitei aquele primeiro copo de whisky.
  
  Senti alguém me puxando pelo braço, era John Stwart.

"Jessy?! O que você está fazendo aqui?" - Perguntou John espantado.

"Dançando com meus novos amigos, não está vendo?" - Respondi um tanto desnorteada e em meio a grotescas gargalhadas.

"Você está bebada?!"

"Não!" - Menti, lógico.

"Até uma criança perceberia que você está bebada. Você acha que a Ashy gostaria de te ver assim?"

   Senti meu estômago embrulhar quando ele citou o nome da Ashy.

"Dá um tempo John! Eu vim aqui me divertir, você deveria fazer o mesmo!" - Dei de ombros indo em direção ao meio da pista de dança quando John me impediu puxando forte o meu braço.

"Ai! Você tá louco?" - Perguntei perplexa por sua atitude inesperada, mas ainda sem muita noção das coisas.

"Vamos pra casa Jessy! Você não sabe o que está fazendo!" - John disse muito sério.

"Me larga! Não vou à lugar nenhum com você!" - Falei puxando bruscamente o braço.

   Subi no palco antes que John pudesse me criar um terceiro ematoma no braço me puxando de novo. Dançava descontroladamente enquanto nada me afligia nem me preocupava. Eu estava muito doida.

"We're gonna rise, rise, rise, keep on rising, rise, rise, rise, keep on rising"

   A música estava alta e a bebida me fazendo enlouquecer. O D.J. estava dançando comigo, pelo menos era o que eu achava né. Mas na verdade ele só estava mesmo era se aproveitando do meu corpo enquanto minha cabeça não estava pensando

"Larga ela, seu idiota." - Disse John me tirando de junto do D.J.

"Ah meu Deus, você tá louca mesmo! Sabe o que poderia ter acontecido se eu não tivesse ligado pras meninas? Ninguém saberia de você Jessy." - John nao tinha a minima ideia do que eu ia fazer aquela noite, so sabia que eu precisaria dele. John ligou pra todas as meninas e Nat falou pra ele que eu iria me afogar na minha própria irresponsabilidade. John foi até minha casa falou com a minha mãe e viu no meu computador a janela da boate que eu tinha deixado aberta. Além de lindo ele ficou muito esperto. Não sei o que seria de mim sem ele.

"Me larga você, John Stwart. Logo você vai querer dar uma de certinho é? Vê se me deixa em paz e vai rezar pela sua irmã porque eu tenho certeza que você ainda não tirou tempo pra fazer isso!" - A bebida fazia minha voz parecer ironica e ao mesmo tempo tirana.

   John saiu dalí magoado, mas os martínis não deixavam eu sentir pena nem me arrepender. Só me permitiam dançar, dançar e dançar.

   Até que num surto de lucidez eu me vi dançando quase nua entre dois caras muito nojentos e me pegando toda. Na mesma hora eu os empurrei. Mas acho que era tarde.

"Ah, que isso belezinha. Vem pro papai, vem. Rebola pra mim de novo!"
 
   Eles eram fortes e puxavam meu braço com muito mais grosseria do que John estava puxando.

"Não. Me larga. Me deixa!" - Dei-lhe uma joelhada num lugar onde eu nunca colocaria a mão, com certeza.

   Saí correndo porta-boate à fora. Não tinha percebido que eles tinham vindo atrás de mim. Foi quando um deles me agarrou por trás e me levantou, como se me fosse levar de volta pra dentro. Foi quando John apareceu de novo, e não poderia haver hora melhor pra ele aparecer.

"Larga ela seu imbecíl." - John disse enquanto dava um golpe nele me tirando de seus braços. John me levou pra perto dalí e me escondeu em seu carro. Daí ele me disse algo que trouxe um bem estar que eu nunca tinha sentido:

"Fica calma tá? Eu to aqui." - John olhava nos meus olhos. Daí eu sorri e ele disse enconstando a cabeça na minha: " Eu vou cuidar de você." Dai ele respirou fundo, me deu seu celular e disse: " Liga pra policia."

   Naquele instante John saiu de perto de mim. Ele foi ao encontro daqueles caras. Foi brigar com eles.

   Mesmo estando desnorteada consegui ligar pra polícia e falar o nome da boate. Mas nem deu tempo de escutar as cirenes tocarem. Apaguei com a cabeça mais pesada do que um barril de vinho.

   Mudanças climaticas, assim como Vodka, cuba-libre e whisky misturados, causam a lendária ressaca. Minha cabeça estava realmente como as ondas de ressaca -  Com atritos violentos e grosseiramente dolorosos.

   Raros são os adultos que nunca passaram pela provação de uma grande ressaca. Alguns têm ressaca porque bebem "demais", outros simplesmente porque bebem "mal". E eu bebi "mal" "demais".

   Passou a noite, a madrugada e uma pequena parte da manhã e então eu acordei com a cara mais inxada, o sol mais forte na cara e a melhor das ressacas. Parecia que uma mar inteiro estava batendo e rebatendo ondas na minha cabeça. Não dava para parar, nem pensar. Só me perguntava Porque tão cedo? Porque tanto sol? Porque tanta dor?

   Quando eu via um anjo se aproximar da cama, um anjo lindo, que me passava calma e me deixava com frio na barriga. Nunca saberei explicar a dupla sensação de alegria e ao mesmo tempo desconforto quando vi que era John Stewart.

- Hoje tem o chá da tarde anual dos Clarks, faz tempo que eu não vou! Lembra quando faziamos par no baile das crianças? Acho que vai ser divertido, mas só se você for! - Ele tinha uma carinha linda! Que impressionante. Ele me conquistava só de falar comigo. Eu não conseguia deixar de lado meu "pé atras" com John, era dificil depois de uma vida inteira de conflitos. Mas ele realmente havia me salvado no dia anterior. Devia isso a ele. Era algo que não se podia negar. E meu coração se econtrava amolecido ao mesmo tempo que desconfiado ainda.
  Coração e cabeça pensam diferentes, mas os dois estavam confusos. Na verdade minha cabeça era mais uma mistura de sentimento confundido com dor de cabeça pós balada. E em meio àquela confusão que pairava sobre minha cabeça, eu nada podia fazer, somente esperar a maré baixar.