sábado, 26 de dezembro de 2009

- Capítulo 1 -
A Grande Maçã


Parte 1 - "Sem reação... fechei os olhos"


"Querido diário, hoje é 02 de agosto de 2009...

   Nova York não costuma estar tão quieta como hoje, pois todos devem estar se preparando pra mega festa na casa da Rachel! Não, estou brincando, não vamos exagerar. Mas falando sério, essa vai ser uma festa pra nunca mais esquecer, com certeza. As meninas vão vir aqui pra casa daqui a pouco, estou muito anciosa com tudo, mal posso esperar pra essa festa, todos os gatinhos, a música, Nat, Jenny, Camilly, Ashy e eu juntas! Uau!! vai ser demais! Ai ai... não sei, sabe quando você sente que realmente um dia vai marcar sua vida pra sempre? Pois é estou sentindo agora, e ai você fica muito feliz e com uma ansiedade que nem você mesmo aguenta, por causa desse dia! Ai ai... era pra eu estar assim, mas estou angustiada, não sei. Ai ai... Cadê a Ashy aqui pra eu dividir minhas angústias com ela heim? rs... Eu e Ashy combinamos de dividir pra sempre nossas mágoas e nossas angústias por causa de carinhas metidos e gatinhos!! Até quando ficarmos velinhas!! rsrs... Ah! Eu e a Ashy vamos viver 200 anos..."

   Nova York nunca mais ficaria tão escura quanto ficou pra mim naquele dia. Um dia que eu realmente nunca mais esqueci. Nunca cosegui ficar muito tempo fora de Nova York. Lá sempre foi meu mundo, minhas lojas, minhas praças, meu colégio, minha vida... Pois é, minha vida...
Porque não damos mais valor a vida antes de descobrir que ela não nos dá valor? As pessoas em Nova York não sabem ao certo viver a vida. Acham que boates, Pub's e drogas fazem parte de uma vida bem vivida. Mas todos os Novaiorquinos são tristes por dentro, porque fomos criados assim. Mas mesmo com os problemas não gosto de outro lugar, gosto da minha casa.
   A grande maçã traz com ela grandes conflitos, grandes aflições, grandes perigos... grandes perdas! Nada que um um Black Label-Johnny Walker não resolva. Aqui na grande maçã, fruta não resolve problemas, só um bom whisky num lugar bem descolado resolve. Resolve qualquer coisa.
   Mas gosto da grande maçã, mesmo sem gostar de fruta. É a minha casa, Nova York é meu lugar. Não largaria por nada.

   Já passou muito tempo longe de casa? Chega uma hora que você fica meio perdido num é? Pois é. A Ashy era minha casa, e até hoje não consigo mais achar um lugar novo pra morar.

***

   Era sábado à noite, eu e todas as meninas estavamos super animadas nos arrumando para a mega festa na casa da Rachel, quer dizer... todas menos a Ashy.

   Ela nunca perderia uma festa se não fossem as atuais circunstâncias: seu namorado, ou melhor, ex namorado, largou ela pra ficar com a oxigenada da Michelle Green.
   Eu não deixaria ela sozinha em casa chorando e se empanturrando de sorvete de chocolate enquanto nós estariamos nos divertindo. A Ashy iria nessa festa de qualquer jeito!
   Tentei de tudo pra convence-la: inventei que os Jonas Brothers fariam uma apresentação na festa, prometi que faria o que ela quisesse por seis meses e até que faria todos os seus exercícios de matemática até o fim do ano, mas ela era mais difícil de se persuadir do que eu imaginava, só aceitou ir à festa quando ameacei me afogar na pia da cozinha!

   Depois de conseguir arrastar a Ashy até o carro fomos pra festa, mas não sabiamos que aquela seria uma noite que marcaria nossas vidas para sempre.

   Estavamos todas cantando e rindo no caminho da festa, eu dirigindo, a Ashy no carona e as outras três meninas no banco de trás.
   Levei um susto quando Natalie deu um grito e apontou para um carro desgovernado vindo em nossa direção, sem reação e sem a mínima idéia do que fazer fechei os olhos e depois disso só lembro de acordar num hospital muito agitado, pude ouvir pessoas falando alto e outras empurrando uma maca na qual eu estava deitada, fechei os olhos novamente.
   Acordei num quarto silencioso e com muitos tubos e corativos, minha mãe deu um pulo em minha direção com uma expressão de alívio e tristeza nos olhos, ela sorriu e me abraçou por me ver consciente. Perguntei a ela como estavam as meninas, ela meio sem jeito disse que Natalie, Jenny e Camilly estavam bem, mas ao pronunciar o nome de Ashy ela só abaixou a cabeça, pude perceber seus olhos se encherem de lágrimas.
   Nesse momento um misto de sentimentos tomou conta da minha mente, consigo sentir meu estômago embrulhar e sinto um nó na minha garganta toda vez que lembro.
   Não consiguia aceitar que o pior tinha acontecido... não com a Ashy... ela não podia ter nos deixado, não ela.

   Quando eu tinha 6 anos eu perdi meu cachorrinho e pra mim meu mundo tinha acabado naquele momento, mas consegui superar graças a Ashy que me deu forças. Eramos a metade uma da outra. Nunca tinha sentido a morte tão de perto.

   Depois da notícia sobre a Ashy eu não sabia o que fazer. Não tinha idéia de quem ficaria ao meu lado dali pra frante. Estava me sentindo totalmente sozinha.
   O velório foi o momento mais difícil da minha vida inteira. Tinham muitas pessoas lá. A família dela estava arrasada! Só de lembrar da expressão da mãe dela meus olhos se enchem de lágrimas. E eu... bom... é inexplicavel o quanto aquilo estava sendo difícil pra mim. Ela me prometeu... disse que viveriamos 200 anos... rs... ela sorria toda vez que dizia isso.

   É difícil fazer promessas e planos para o futuro quando vivemos num mundo tão incerto e confuso.
  
   Fizeram uma homenagem linda pra Ashy, mas era quase impossível prestar atenção nas coisas que estavam acontecendo e o pior de tudo é que não conseguia tirar aquele sentimento de culpa da minha mente. Se eu não tivesse convencido ela de ir talvez ainda estivesse viva.

   Quando saí do velório fui pra casa da árvore que tinhamos construído quando erámos crianças. ficava em West park, lugar onde vivemos a maior parte de nossas confidencias, alegrias e tristezas. Era incrível como me sentia bem lá, conseguia sentir como se a Ashy ainda estivesse ao meu lado.
   As paredes eram cheias de desenhos de borboletas, flores e estrelas. Achei um mapa desenhado por nós duas, muito colorido e com um grande X vermelho no final do caminho, na parte de cima da folha estava escrito "Encontrar o tesouro até o por do sol do ultimo dia de dez anos completados. E no canto da folha tinha a data de quando fizemos o mapa "10.08.1999".
Nunca fui boa em caça ao tesouro, Ashy era muito mais esperta e astuta. Era a metade que faltava em mim. Sabe, acho que se não avisassem que meninos casam com meninas e meninas com meninos eu e Ashy teriamos nos casado. rs... Juntas eramos completas.
   Mas a vida traça nossos caminhos do jeito mais loucamente harmonioso que voce pode imaginar. Pleonasmos e redundancias a parte, a vida nos prepara surpresas que NUNCA poderiamos imaginar.